Lelinho Kapich nasceu em 1955 no município de Nova Venécia, no estado do Espírito Santo, ele passou sua infância lá. Casou-se aos 17 anos e se mudou para São Paulo, depois foi para o Pará e mais tarde foi para o Paraná.
O sogro e os cunhados de Lelinho vieram para Juína em 1978, no ano de 1979 Lelinho e a esposa vieram visitar a família, ele gostou do município e decidiu que iria vir para cá.
No ano de 1982, incentivado pelos familiares que moravam em Juína e também pela propaganda feita pelo governo, “Integrar para não Entregar”, Lelinho vendeu sua empresa em Curitiba e se mudou para Juína.
Lelinho comenta que Juína tem pessoas de todos os estados da federação, devido a proposta que o governo fazia, que era muito boa.
Ele conta que veio para o Mato Grosso com um pouco de mudança em cima do seu Veraneio e uma mala de dinheiro, era para ele ter chegado no município com muito dinheiro, mas a estrada de Cuiabá a Vilhena era toda de chão, demorou uma semana para chegar até Vilhena e quando chegou, Lelinho percebeu que sua mala de dinheiro havia sumido. Sua sorte foi o tanque de óleo do seu Veraneio que foi o suficiente para ele conseguir chegar até Juína.
Lelinho e a esposa foram morar na chácara do seu sogro, a mais de 5 km de distância da cidade, havia um galinheiro no meio do pasto, eles limparam e colocaram sua mudança lá. Lelinho ia todos os dias até a cidade procurar terrenos para carpir, pois ele tinha 4 filhos e precisava sustentá-los.
Lelinho perdeu seu pai aos 7 anos de idade, aos 10 anos saiu da casa de sua mãe, tinha tudo para se tornar um marginal, mas ao contrário disso, sempre lutou e sempre teve um princípio religioso muito forte.
Lelinho diz que em Curitiba sua vida era muito boa, ele trabalhava poucas horas por dia e ganhava um bom dinheiro, ter perdido aquela mala de dinheiro e chegar a Juína sem nada o abalou, mas ele acredita que foi uma provação de Deus, em 4 anos Lelinho conseguiu recuperar o dinheiro que havia perdido.
Lelinho conta que também furava poços e fossas, na época ainda não tinha tubos de poços, um dia quando ele e um amigo furavam um poço na Serraria da Luz, seu amigo amarrou uma prancha de itauba, ela se soltou e veio para cima de Lelinho, seu amigo o puxou e Lelinho só machucou o ombro. Aquilo fez com que ele tomasse a decisão de procurar algo melhor para sua vida.
Lelinho foi trabalhar retirando areia, ele relata que teve muito sucesso quando o DAES abriu e foi ele quem forneceu areia para a construção das caixas de água.
Um tempo depois seu filho sofreu um acidente, Lelinho vendeu tudo que tinha para salvar a vida do filho. Ele relata que sua situação financeira ficou muito ruim, ele havia pegado todo seu dinheiro nos bancos e também pegou dinheiro com agiotas para conseguir pagar o tratamento do seu filho.
Em 1987 a inflação estava muito alta e Lelinho pensou que não iria conseguir sair daquela situação. Mas no final do ano de 1987, um amigo chamado Olavo comprou um caminhão de areia do Lelinho e o pagou com bloquinhos de uma rifa, Lelinho foi sorteado e ganhou um Savero 0 km.
Ele vendeu o Savero e com o dinheiro comprou uma casa em Cuiabá, sua ex-esposa e o filhos deles foram para lá, para que o filho do casal pudesse fazer um tratamento no Centro de Reabilitação Dom Aquino, em pouco mais de um ano ele já havia voltado a falar e andar.
Diante disso, Lelinho teve animo para voltar a trabalhar. Aventurou-se no garimpo, mas não teve sucesso. Então começaram a surgir as parabólicas, Lelinho as vendia e instalava para Juína e região.
Em 1986 no período das campanhas políticas, Lelinho trabalhou fazendo som na chapa do Ságuas e do Maninho. Eles ganharam a eleição e foi sugerido a Lelinho que abrisse um canal de televisão em Juína.
Foi formado um grupo de 6 pessoas, com Lelinho a frente, e assim se deu início a televisão no município de Juína. Ele conta que não tinha nenhuma experiência no ramo, que a TV foi uma espécie de faculdade para ele.
Lelinho relata que quando chegou na hora de investir o dinheiro, algumas pessoas do grupo saíram, ele teve que fazer financiamentos para conseguir continuar com o projeto. No começo eles trabalharam com duas filmadoras emprestadas. Eles viram que Juína estava precisando de um canal de televisão, mesmo eles não tendo experiência.
Depois de 90 dias houve uma denúncia na Câmara dos Vereadores de uma nota superfaturada, Lelinho havia vendido um horário para os vereadores e foi preso acusado de extorqui-los.
Ele agradece por esse episódio de sua vida, pois graças a isso ele ficou conhecido no município e diante disso, o ministério público entrou em sua defesa e investigou o caso, foi descoberto o desvio de 250 mil reais da câmara, os envolvidos foram denunciados como quadrilha e Lelinho criou um quadro chamado “O Preço Por Falar A Verdade”, com isso ele ganhou audiência expondo as falcatruas dos vereadores do município.
Lelinho fala sobre um ditado que ele leva para a sua vida, que a cada 15 anos você tem que mudar de atividade, pode dar sequencia ao que você tem, mas é interessante você mudar ou colocar uma nova atividade para sair da rotina.
Aos 60 anos Lelinho já havia trabalhado em várias áreas e já estava a 18 anos na TV, naquela mesma rotina, ele achou que estava na hora de parar. Vendeu sua empresa, fez um bom negócio e está satisfeito com a sua aposentadoria.
Lelinho diz que Juína representa tudo para ele, que Juína é sua segunda mãe, também comenta que aprendeu muito com a televisão e depois de 38 anos em Juína, graças a televisão ele procurou e conseguiu encontrar a sua mãe, pediu perdão para ela e depois disso as coisas melhoraram muito para ele.
Lelinho comenta que apesar das dificuldades e da luta quando chegou a Juína, as pessoas eram felizes. As dificuldades eram grandes, mas a esperança também. Ele também comenta que infelizmente a política no Brasil inteiro não vai bem, que seria melhor se os políticos não olhassem apenas o próprio umbigo.
Lelinho passou por muitas dificuldades na sua infância e adolescência, e quando entrou na área da radiodifusão ele prestava assistência a muitas pessoas, comenta que sente falta disso, de levar alimentos, roupas, saúde e esperança para o próximo.
Ele relata uma dessas histórias, sobre um senhor aidético que ele visitou, o senhor estava abandonado, coberto de ferimentos, Lelinho o abraçou e falou que iria o ajudar, levou o senhor para Cuiabá fazer um tratamento e em 90 dias ele estava perfeito.
Também conta sobre seu ultimo trabalho com as crianças, trabalho esse que ele realizava todo dia 12 de outubro. O ultimo que ele realizou foi em 2014, no ginásio de esportes, onde foram sorteadas 86 bicicletas, 10 mil bolas, e milhares de brinquedos, Lelinho entrou no ar 9h00min da manhã e foi até as 13h00min realizando sorteios de brinquedos, foi inesquecível.
Lelinho Kapich parabeniza o município de Juína pelos 37 anos de sua emancipação política e diz que nós estamos aqui para somar nesta trajetória.
Confira mais detalhes sobre a trajetória de Lelinho Kapich no áudio abaixo.