Jair Carlos Link nasceu em Saudade, no estado de Santa Catarina. Ele veio para Juína a convite de um amigo que tinha uma empresa na região, Jair chegou a Juína no ano de 1982.
Ele conta que a viajem foi longa, Jair veio pela estrada que passa por Tangará e pegou uma balsa para atravessar o Rio Juruena. Na época Juína ainda estava se desenvolvendo, o módulo 4 estava sendo aberto e não havia asfalto. As amizades eram fáceis de fazer e grande parte da população era de pessoas da região Sul do Brasil.
Jair trabalhava em uma madeireira, então não vinha muito para a cidade, só quando seu patrão o mandava fazer compras ou ele precisasse comprar peças.
Ele comenta que ajudou na construção da entrada do Hospital Municipal e que naquela época nunca faltou mão de obra, em parte devido ao garimpo. Jair diz que o garimpo deixou muitas pessoas bem financeiramente, mas também deixou muitos, que venderam seus patrimônios para investir na garimpagem, em uma situação ruim. Jair também trabalhou 90 dias no garimpo, mas não ganhou muito.
Jair conta que quando seu pai ficou doente eles venderam tudo que tinham em Santa Catarina e gastaram com médicos, ele diz que hoje muitos reclamam da saúde, mas naquela época era bem mais difícil. Seu pai acabou falecendo e sua mãe ficou sozinha, Jair é o mais velho dos irmãos, então trabalhava para ajudar sua família. Ele comenta que ele e sua família ficaram sem nada, mas ele não se arrepende, por que fez tudo que pôde para ajudá-los.
Jair relata que não foi fácil se adaptar ao município, ele é uma pessoa comunicativa e isso o ajudou. Jair sempre deu seu melhor nas empresas que trabalhou.
O emprego na madeireira, onde Jair iria trabalhar, não deu certo, então ele foi trabalhar na madeireira de Lírio Zeni, depois também trabalhou na CODEMAT, mais tarde, junto com seus cunhados, Jair abriu a Carrocerias Schmitt. O setor de carrocerias começou a enfraquecer e Jair foi trabalhar em suas terras, onde ele trabalha até hoje.
Jair conta que uma vez demorou 11 dias para ele levar madeira serrada até Castanheira, havia uma região de muito atoleiro, eles cortavam árvores de 20 cm e carregavam nas costas, faziam estivas e colocavam para os veículos passarem, passava três ônibus e a madeira imergia na lama. Era uma época de muita malária, os ônibus passavam e metade dos passageiros estava doente. Jair diz que esse período o marcou bastante, ver o sofrimento daquelas pessoas, hoje as pessoas reclamam, mas aquela época era difícil, nossos pioneiros lutaram muito pelo que eles têm hoje.
Quando Jair trabalhava na madeireira de Lírio, seu colega Toninho, que hoje é falecido, tirou a maior madeira que Jair já viu, ela tinha 2 metros de largura, era um mogno sem nenhuma mancha, eles não conseguiram serrar ela, então em 4 pessoas, eles abriram a madeira com motosserras. Era uma época em que se ganhava muito dinheiro, a mão de obra era mais bem remunerada.
Jair conheceu sua esposa Nelci no ano de 1983, o pai dela morava perto da serraria onde Jair trabalhava. Nelci trabalhava na cidade para ajudar a família, na páscoa ela foi para a casa de seus pais comemorar e lá estava Jair, ele diz que foi amor a primeira vista. Hoje eles têm 3 filhos, José Arnaldo, Jair Junior e Mariana. O casal também tem um neto que nasceu recentemente. Tudo que Jair conquistou foi com muito trabalho e ele é grato pela sua família e por tudo que tem.
Jair Carlos conta que sempre foi bem remunerado, pois nunca rejeitou serviço e nunca reclamou, mas ele foi alcoólatra por muito tempo, Jair diz que um dos problemas do alcoolismo são os falsos amigos, pessoas que bebem junto com você e só ficam por perto enquanto você tem dinheiro, os verdadeiros amigos são aqueles que te visitam quando você está sóbrio, ficam do seu lado e te ajudam.
Jair sempre se preocupou em fazer um bom trabalho e agradar os patrões, mas não se preocupava com ele mesmo ou com sua família, ele diz que a maioria dos alcoólatras são bons trabalhadores, mas não conseguiu aproveitar o dinheiro que ganhou neste período, as pessoas diziam para ele que quando estava sob efeito do álcool era muito difícil conviver com ele.
No mês de fevereiro do ano 2000 Jair nasceu de novo, a pedido da família e dos verdadeiros amigos, ele lutou e conseguiu enfrentar a sua doença. Ele relata que sair dessa situação foi o melhor momento da sua vida. Jair diz que leu que apenas 2% dos alcoólatras conseguem ficar sóbrio o resto da vida, ele se sente privilegiado por estar sóbrio até hoje e poder contar essa história para as pessoas. Ele agradece a Deus e diz que o querer faz muita diferença, quando a pessoa se aprofunda no álcool isso se torna uma doença, que prejudica a pessoa e a sua família.
No seu primeiro ano sóbrio Jair comprou 60 alqueires de terra, tudo que ele tem conseguiu depois do alcoolismo. Jair sempre teve disposição para trabalhar, a três anos ele faz parte da equipe da rádio Metrô, apesar do pouco estudo, Jair aprende fácil praticando. Ele cria gado e peixe, também tem uma horta e vende seus produtos na feira municipal.
Quando seu filho Arnaldo estava na faculdade, ele e a esposa começaram a vender mandioca descascada, plantaram 23 mil pés de mandioca, com o lucro dessa plantação eles conseguiram comprar seu primeiro carro, pagar a faculdade do filho e até viajar. Os filhos mais novos tiveram uma vida mais fácil, Arnaldo, que é o filho mais velho, andava quilômetros de bicicleta para chegar até a faculdade, dormia na cidade e de madrugada voltava para casa.
Jair diz que sua esposa sempre o ajudou, ela é muito trabalhadora, cuida da horta deles e das várias flores que ela tem, eles conseguiram formar seu filhos e Jair tem esperança de que as coisas melhorem cada vez mais.
Jair Link passou por muitas dificuldades, várias vezes ele sentava em um canto pensando como passar por esses momentos. Na época em que ele trabalhava na CODEMAT, o salário estava três meses atrasado, Nelci estava prestes a dar a luz, Jair tinha um terreno no módulo 4 e teve que vender o terreno, por um preço bem abaixo do valor, para poder pagar o hospital onde seu filho iria nascer, ele ficou muito revoltado na época, mas conseguiram passar por isso.
Para as pessoas que estão chegando ao município, Jair diz que devem fazer o que gostam e que façam com carinho que tudo dará certo, Juína tem muitas oportunidades, hoje não é tão fácil quanto era antes, mas ainda tem oportunidades. Nosso município é como coração de mãe e sempre acolhe a todos .
Jair diz que as pessoas devem ter cautela, fazer tudo certo e bem feito. O município tem muito para crescer e está andando no caminho correto, a população está investindo em sua agricultura e pecuária. Ele comenta que o correto é tirar da terra e devolver para ela, Jair ainda não faz isso, mas temos que nos adequar para o nosso bem.
Um grande problema no município é a qualidade das estradas de acesso, as estradas até Tangará e Brasnorte, por exemplo, tem muitos buracos, por isso grandes indústrias não vem para cá. Os agricultores e pecuaristas também sofrem com isso, pois precisam de estradas de qualidade para transportar seus produtos.
Jair e a família agradecem o município por os acolherem tão bem.